domingo, 20 de novembro de 2011

As fortes chuvas e meu bairro

As fortes chuvas do feriado da república trouxeram para nós, moradores do Jardim Brasil, tristes lembranças dos ainda próximos dias 10 e 11 de janeiro. Da privilegiada janela da minha sala, defronte as ruas Amadeu Amaral e Domingos Matheus, pude ver a água que caia sem cessar do céu cinza e carregado na rua que mais parecia um rio que se avolumava a cada minuto. Alguns vizinhos, temerosos com o pior, trafegavam de carro ou debaixo de guarda-chuva com os pés submersos a todo instante.
Nosso bairro nasceu no final da década de cinqüenta por iniciativa de Jacinto Silva e seu pai Eduardo Silva que lotearam uma pequena chácara limitada de um lado pelo ramal da estrada de ferro e de outro pela novel avenida Carvalho Pinto; de outra banda pelo ribeirão Itapetinga e pela hoje rua Rui Barbosa. Contudo, somente na segunda metade da década de sessenta o bairro começou a ser povoado e meus saudosos avós Oscar e Iride e seus filhos, entre eles meu pai, estavam entre os primeiros moradores.
Na segunda metade da década de sessenta o trem deixou de ser um meio de transporte na nossa cidade e o matadouro municipal também passou a fazer parte somente da lembrança de alguns. Hoje a antiga estrada de ferro tornou-se a importante avenida Jerônimo de Camargo e o antigo matadouro o ASA. Nem mesmo o ribeirão Itapetinga faz parte do cenário do nosso bairro, visto que entre as avenidas Carvalho Pinto e Jerônimo de Camargo ele está canalizado desde 1995.
O Jardim Brasil, como a grande maioria dos bairros das décadas passadas, nasceu sem infraestrutura e com pacos moradores que chegavam timidamente no curso dos anos. Dos mais antigos restam poucos, entre eles, as segundas e terceiras gerações dos Bedores. As melhorias foram chegando e o bairro periférico da cidade tornou-se e é considerado extensão do centro com toda infraestrutura necessária, mas com um sério problema: o constante perigo de enchentes decorrente de sua geografia e topografia (é a última bacia antes do encontro do Piqueri com o Atibaia e área de várzea), hoje não seria mais loteado regularmente.
A enchente do dia 10 de janeiro que atravessou toda madrugada e manhã do dia seguinte não foi a primeira. Segundo minha família nas décadas de sessenta e setenta houve outras que não presenciei naturalmente, mas a do dia primeiro de março de 1988 e a última me fizeram de testemunha e marcaram minha vida. A de 1988 causou menores prejuízos já que certamente a precipitação foi menor, o Piqueri ainda não era canalizado e a cidade era menos impermeabilizada, já a de janeiro deste ano os prejuízos foram enormes.
Para nós, moradores do bairro, o dia 11 de janeiro não será jamais esquecido, contudo para mim com significados ainda mais fortes pois neste mesmo dia no ano de 1997 minha avó Iride, uma das primeira moradoras do bairro, fazia sua derradeira viagem e no mesmo dia 11 de janeiro deste ano, eu teria que embarcar para Itália, numa viagem profissional inadiável, tendo que deixar para trás um cenário de completa destruição e desolação.


Evidente e compreensivo que as fortes lembranças dos moradores do bairro são potencializadas a cada forte chuva e as reações são na maioria de revolta e de caça a culpados sem culpas. Lembro-me de 1988 quando meu pai, então vereador no primeiro mandato foi, por alguns, culpado pela chuva que inundou o bairro.
Hoje mudaram os personagens mas alguns culpados continuam os mesmos: o prefeito, alguns vereadores, a usina, os reservatórios de água na serra , o assoreamento do rio, a canalização do Piqueri, a falta de limpeza de bueiros e margens dos rios, etc, etc...
Na verdade não há culpados. Existem algumas situações que atenuam ou agravam as conseqüências de uma tragédia como a do dia 10 que tem nas causas naturais seu único culpado. O mundo inteiro, desenvolvido ou não, sofre os efeitos das manifestações naturais, cada vez mais freqüentes. Nosso bairro, pela geografia e topografia está, infelizmente, em área de risco aceitem ou não essa condição.
Nenhuma ação ou um conjunto de medidas afastará definitivamente o risco de novas enchentes no nosso bairro, dizer o contrário é iludir-se, enganar-se e no caso de alguns políticos pura demagogia barata e promessa eleitoreira. Estamos, como já disse, numa várzea e na última grande bacia antes do Itapetinga desemborcar no Atibaia. Situações geográficas e topográficas nada favoráveis. Contudo, nos últimos meses após as enchentes de janeiro conquistamos algumas medidas realizadas pelo Poder Público Municipal que amenizarão os problemas, mas continuamos lutando por outras medidas que amenizem ainda mais as conseqüências de fortes chuvas.
No próximo texto sobre o tema pretendo tratar detalhadamente sobre as causas de agravamento e as ações que atenuam a problemática causada pelas fortes chuvas.

Adriano Bedore