domingo, 19 de fevereiro de 2012

Verdades e mentiras sobre as obras de revitalização do centro histórico de Atibaia

As obras de revitalização do chamado centro histórico têm gerado muita polêmica e grande descontentamento entre os que têm se manifestado sobre o assunto, quer nas ruas da cidade ou nas redes sociais (ver: http://www.facebook.com/?ref=tn_tnmn#!/photo.php?fbid=10150387816219985&set=a.10150386738039985.356636.656139984&type=1).

Algumas verdades são ditas, contudo, muitas equívocos têm sido divulgados, sem a devida atenção dos que propagam e sem nenhum compromisso com a verdade dos fatos. A retirada do coreto é um exemplo dessas inverdades.

Os coretos, diferente do se acredita, surgiram a relativo pouco tempo nas cidades brasileiras, tendo como função principal um local para apresentação das bandas musicais, tão comum nas cidades e hoje tão raras.

Na praça Claudino Alves do Amaral, ou simplesmente praça da matriz, acredita-se que o primeiro coreto apareceu no início do século XX (ou pouco antes. Pelo O Atibaiense temos a nota que as sete da noite do dia 03/03/1912 inaurou-se um ..."belíssimo coreto... o qual na sua completa reforma foi aumentado em mais que o dobro" foto 1) e desapareceu na segunda metade dos anos 1930 na gestão de João Batista Conti (1936/45) quando se deu uma grande reforma na praça (foto 2), considerada por muitos a mais marcante de todas. A referida reforma foi caracterizada pela colocação da estátua do Major Alvim no seu centro, inaugurada em 24 de junho de 1938a qual lá permaneceu até o início de 1966 quando Tito Lívio Garini (1965/66) a levou para praça Bento Paes (praça do museu), substituindo-a por uma fonte.

Raros foram os prefeitos que não realizaram alguma reforma na praça, por menor que fosse, citaremos a seguir alguns:

Omar Zigaib, entre a restauração do antigo hotel municipal, em péssimo estado de conservação, e sua demolição, optou pela segunda alternativa, expandindo a praça para além da rua que a circundava, dando a praça o tamanho que conhecemos hoje, bem como transformando-a num grande jardim, com montanhas de grama. Tal praça é a praça da minha infância (foto 3), e para mim foi a reforma mais equivocada de sua história.


José Aparecido Ferreira Franco “Cido Franco” (1975/79) foi o responsável pela penúltima grande reforma da praça. A praça que existia antes da última grande reforma de 2008 tinha a 'cara' dada na primeira gestão de Cido Franco que tirou os 'morrinhos' feitos por seu antecessor. Depois desta reforma, outros prefeitos fizeram pequenas reformas, mas mantendo o aspecto deixado por Cido Franco. O coreto tirado da praça na última grande reforma de 2008, também havia sido colocado por Cido Franco que recebeu de Antônio Henrique da Cunha Bueno “Cunha Bueno”, então secretário de Estado da Cultura (1978/82), um dos coretos que o secretário enviara para algumas cidades do interior paulista, portanto, o coreto recém retirado da praça, diverso que muitos pensam e comentam, tinha menos de quarenta anos e nenhum valor histórico.

A última grande reforma da praça matriz foi realizada no último ano do segundo mandato de José Roberto Tricoli “Beto Tricoli” (2005/08) e ainda sofre alterações na gestão de José Bernardo Denig “Dr Denig” (2009/12) em razão das obras de revitalização do chamado centro histórico, principalmente da primeira rua de atibaia, a rua José Lucas, ou rua direita ou rua das igrejas.

A grande impressão é que os prefeitos não querem deixar seus mandatos sem realizar alguma obra na mais antiga praça atibaiana, numa tentativa de deixar uma marca de suas gestões na principal e mais antiga praça da cidade.

Mesmo tendo formação na área de humanas sempre me interessei pela arquitetura e urbanismo e a tese da praça como espaço aberto voltado para reunir os cidadãos em encontros sociais, culturais, esportivos e políticos, como nas praças europeias, me agrada muito mais do que a tese da praça como jardim ou parque, mais comum aqui no Brasil. Sem a pretensão de conceituar, praça tem a característica de espaço aberto, enquanto que nos jardins ou parques predomina grande quantidade de árvores, canteiros e alguns equipamentos públicos de lazer e esportes.

Atibaia, como quase toda cidade brasileira, nasceu e cresceu a partir de sua igreja matriz, e a nossa é uma das maiores igrejas de taipa do Brasil. Nossa praça da matriz já teve muitas ‘caras’ com estilos bem diferentes e ao gosto do prefeito da época. Sua forma original, até pela evidente ausência de equipamentos públicos, assemelha-se a atual, ou seja, a predominância de um grande espaço aberto destinado aos eventos públicos nas datas festivas.

Me agrada muito ver a primeira praça da minha cidade natal como um local aberto com nível único e voltada para eventos de toda ordem. No Brasil as praças como pequenos parques é bastante comum e reconheço seu valor e beleza, contudo, a praça da matriz de uma cidade, deve, sempre que possível, no meu entender, contemplar o conceito clássico de praça, tal qual temos hoje, com poucas árvores, canteiros e equipamentos públicos, primando pelo espaço aberto voltado para reunir a população nos eventos públicos, fazendo o coração da cidade pulsar sempre. Sua vida não está nos excessos de equipamentos públicos mas nas pessoas que ocuparão a praça nos dias de festa.

Felizmente, Atibaia tem outras praças/parques, como a Miguel Vairo (Santa Casa), Bento Pais (Museu) e Aprígio de Toledo (Mercado) que aliás tem um belo coreto, para citar somente as praças do centro, de modo, que termos nossa primeira praça com cara de praça na mais perfeita concepção da palavra só tem caráter positivo, já que os que a desejam de outra forma, têm muitas outras praças com cara de parque para apreciar.

Voltando ao coreto que foi recém retirado da praça, além de novo e sem nenhum valor histórico, não servia para sua principal destinação já que era muito pequeno e seu interior não cabia nem uma banda de rock, quanto mais os componentes da nossa banda 24 de outubro, contudo, reconheço que para os mais novos (os com menos de 40 anos) ele tinha uma importância sentimental, embora meramente afetiva e referencial de uma época recente.

Quando estive na apresentação do projeto de revitalização do centro histórico, em agosto ou setembro de 2008, lembro-me que estava previsto a colocação de um coreto móvel, semelhante ao retirado, o qual ficaria no lugar original do primitivo coreto do início do século XX e que seria removível sempre que houvesse grandes eventos na praça. Eu sou a favor da ideia e faria ainda mais, criando o primeiro coreto sobre trilhos do Brasil, fazendo um coreto que correria sobre trilhos instalados abaixo do nível da praça, fazendo com que o coreto mudasse de lugar dependendo da atividade realizada na praça, tornando-se uma atração inovadora numa praça. Com o tempo, expressões do tipo: hoje haverá festa pois o coreto já se correu.... traria elementos únicos para nossa praça.

Também defendo a instalação de uma fonte d’água na parte nova da praça (aquela onde existia o antigo hotel municipal) mas não uma fonte clássica com um pequeno tanque d'água e monumento, mas aquelas modernas no mesmo nível da calçada (fotos 4 e 5), sem ocupar espaços, mas dando um charme especial a praça, afinal, a principal praça da cidade que tem água no seu nome, tem que ter este elemento no coração da cidade, a qual evidentemente não funcionaria nos dias de evento público na praça.

Outra obra que eu faria seria a construção de um palco permanente. Recentemente a prefeitura adquiriu o primeiro imóvel depois da praça, aquele cuja parede lateral tem a pintura do antigo hotel municipal feita com muito bom gosto na gestão de Flávio Calegari (1993/96). Pois bem, eu retiraria o telhado do citado imóvel e faria uma grande laje sobre ele. Tal laje seria a base de um grande palco permanente que ficaria exatamente no centro do limite da praça e sua cobertura seria montada apenas nos eventos que necessitasse do palco.

Abaixo do palco, no imóvel recém adquirido, eu faria um centro permanente de exposição de artesanato ou a secretaria de cultura, e ou um arquivo municipal, ou quem sabe tudo junto, se o espaço for suficiente. Nos dias de shows um dos cômodos da citada casa serviria como camarim para os artistas, agindo assim não se demoliria mais um imóvel, embora não muito antigo, mas com história do centro velho de nossa cidade.

A pintura do antigo hotel, teria que ser refeita por artistas locais e algumas de suas portas e janelas seriam reais e dariam acesso ao imóvel comprado pela praça. Seria uma pintura mais real com elementos verdadeiros, objetivando trazer as lembranças do velho hotel de volta a praça.

Com a construção do palco permanente acima do citado imóvel, a praça ganharia ainda mais espaço, já que o espaço sempre ocupado pelos palcos montados para os shows seria mais um espáço livre a ser ocupado pela população nos dias de festa e daria a nossa cidade o maior palco permanente no coração de uma cidade que conheço.

Outras obras que eu realizaria seria a construção, na extremidade direita da parte nova praça de quem está defronte a pintura, de um monumento em memória aos atibaianos que lutaram nas na duas grandes guerras e na revolução de 1932, homenagem inexistente na nossa cidade, a qual imortalizaria o nome dos nossos heróicos combatentes. Minhas últimas sugestões seriam a instalação de um ‘totem’ eletrônico que alternaria fotos das versões antigas da praça, ou seja, sua evolução no tempo e uma moderna TV permanente na parede do mini anfiteatro hoje existente, a qual, todas as noites exibiria imagens fotográficas de nossa cidade, tiradas por nossos fotografos.

Enfim, a execução das obras de revitalização do centro histórico, especialmente da rua José Lucas, tem deixado a desejar, especialmente pela incompreensível demora e equívocos gritantes na escolhas de materiais impróprios para o local. É importante salientar que o dinheiro gasto com as obras não poderiam ser gastos em obras, posto que é dinheiro recebido do Estado exclusivamente para este fim. Dito isso, apesar dos graves erros e execução nas obras, acredito que sendo os mesmos equacionado, corrigindo-se os serviços mal feitos, o resultado final das obras propostas, será extremamente favorável (melhor seria com as sugestões que proponho), visto que teremos a mais antiga e importante rua da cidade, num único nível, com ótima acessibilidade, sem fios nos postes, dando um ar nostálgico dos velhos postes de luz e a praça da matriz mais próxima de sua forma original e voltada para a reunião da população nos principais eventos de nossa querida Atibaia.




Foto 1: Igreja matriz em 1936




Foto 2: Praça da matriz na reforma da década de 1940, ao fundo o antigo hotel municipal



Foto 3: A praça de minha infância








Fotos 4 e 5: Modelo de uma fonte moderna proposta