sábado, 31 de dezembro de 2011

O certo e o errado

A tão falada experiência de vida ou maturidade, nos traz alguns presentes que por vezes só ganhamos com ela. Um deles é a percepção clara de que praticamente tudo na vida tem dois lados ou que quase tudo pode ser defensável. Nada é absolutamente certo ou errado.
Com o tempo percebemos que ter ou não razão, depende muito do ponto de vista, do ângulo pelo qual se olha, dos interesses envolvidos, da cultura e do conhecimento das partes, do tempo e do espaço de onde se trava uma discussão. Percebemos que numa boa discussão, ambos os lados têm argumentos que sustentam sua tese, e que, portanto, definir um lado como certo e outro como errado é extremamente simplista e pode ser deveras equivocado. Há sim, modos de vista diferentes, visões de mundo diversas, interesses antagônicos, etc. Poucas situações e ou questões têm um lado pacificamente certo ou errado.
Quando não se tem a tal experiência de vida, achamos que a razão e a verdade andam apenas do nosso lado e ponto. Somos, muitas vezes, donos delas e nossos interlocutores, coitados, nada sabem e não têm razão nunca.
Impressionante como o tempo nós faz enxergar até beleza nos argumentos contrários dos nossos. Impressionante como a verdade que achávamos que era apenas nossa propriedade passa a ser relativa, menos importante, indiferente por vezes.
A discussão passa a ser leve, agradável, impessoal e inteligente.
Um grande e eficaz exercício para adquirirmos esta, que considero uma virtude concedida pelo tempo, é nos colocarmos no lugar e no ponto de vista de nossos interlocutores para tentarmos enxergar suas razões e os argumentos de sua ótica, conhecimento, cultura e interesse. Quanto mais nos colocamos no lugar do outro, ou nos distanciamos do fato em discussão mais conseguimos entender os argumentos opostos aos nossos e conseguimos enxergar com límpida nitidez os fatos. Tal regra, vale para quase todas as discussões, das mais pontuais e de importância reduzida as mais amplas e importantes.
Outra situação interessante, é quando somos chamados por um amigo para tomarmos seu partido diante, por exemplo, de um impasse, demanda, briga entre ele e uma outra pessoa que temos menos contato ou carinho. Aprendi, com o tempo, que nem sempre nossos verdadeiros amigos têm razões nas suas versões sobre fatos e pessoas, ou melhor, nem sempre, somente eles têm razão, mas que, só pelo fato de serem nossos amigos, merecem nosso carinho e que a melhor postura diante desta situação é a solidariedade, mesmo sabendo que toda história tem duas versões e que a mais correta, quase sempre é uma terceira. Se conseguirmos tentar fazê-los enxergar o outro lado da história, melhor, senão, nosso apoio é o melhor a fazer. Mas se estivermos no meio de um impasse entre dois bons amigos, o melhor a fazer, é ouvir os dois e tentar a todo custo uni-los através do diálogo, caminho mais eficiente para resolução de quase tudo na vida. A verdade e a razão, não são absolutas nunca, dependem de muitos fatores, portanto, a busca por elas é muito mais importante do que seu encontro.
Respeitar e procurar entender os argumentos opostos aos nossos numa discussão não é aceitá-los, tampouco anular os nossos próprios argumentos, mas simplesmente entender que do mesmo modo que temos argumentos para defender uma tese que acreditamos, há argumentos suficientes para negá-la e contrapô-la. Isso me faz lembrar uma frase de Voltaire: “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.” Essa frase define o espírito de um verdadeiro democrata e sábio.
Infelizmente, muitos não alcançam este estágio ou apenas, estado de espírito, e passam pela vida defendendo algumas verdades ou sofismas, sem jamais curvarem-se a dialética e jamais tentarem compreender ou entender os argumentos diferentes. Pobres que morrem sem jamais terem enxergado além da esquina, sem jamais terem dobrados as tantas esquinas do conhecimento. Quanto mais busco conhecer, mais tenho certeza que Sócrates, não o jogador, mas o filósofo tinha razão: “ Só sei que nada sei” e quero sempre ver o mundo de suas muitas esquinas! Feliz ano novo!