domingo, 12 de setembro de 2010

Do sexo ao repouso eterno

Nem eram oito da manhã.... voltando de um lugar bem diferente parei na porta do cemitério. Programa estranho, dirão muitos. Os que já me conhecem já se acostumaram.
Olhei a lista dos pranteados extintos... ninguém conhecido, nenhum parente distante ou conhecido. Presença dispensada durante o féretro mais a tarde. Bom, tarde livre para o combinado e esperado almoço.
Entro e começo o giro habitual e ritual pelas ruas onde estar andando nelas é mais prazeroso do que não poder fazê-lo....
Os pontos de paradas cada vez maiores aumentam o tour costumeiro. Engraçado, minutos antes o cenário era de uma esfera totalmente outra: suor, fervor, gemidos, sussuros e gozo e agora o cenário era de total paz, contemplação, reflexão e respeito. A completa contradição, marca incontestável de mim mesmo.
Até pelo horário, além de mim só os funcionários, pejorativamente chamados de coveiros... Me vi por instantes só entre lápides e túmulos. Os vivos eram eu, os passaros e os funcionários sentados na entrada do cemitério. Bem, esses eram os vivos que vi.
Visitei meus avós, poxa já são três.... os quatro bisavós maternos, trisavós, tetravós, tios-avós, tios e alguns amigos que já não podem fazer esse tour pelas ruas do cemitério, pois já fazem parte delas. Todos são uma referência tosca: quadra A, número 10. Já o espaço ocupado varia de tamanho, cor, material, enfim... quase nunca ao gosto do habitante.
Nunca importei-me em estar dentro de um cemitério. Depois das velhas igrejas, museus, teatros, alguns mercados municipais, certamente o cemitério está no meu roteiro...
Estar dentro de um é conhecer um pouco da história de uma cidade, de sua gente extinta, da família através do tempo. As vezes passo e volto: _ nossa conhecia esta pessoa, nem sabia que estava aqui. Engraçado. Penso: Será que um dia, alguém poderá dizer isso ao ler meu nome? Quer saber, que importa.... ainda se eu pudesse explicar e dizer: pois é vivi, amei, tive medo, coragem, conheci lugares, outros não cheguei a ir e no fim acabei aqui, com ou sem dor com ou sem amor é o que restou .....
Cada nome, tem sua história, uma memória que me recuso a acreditar que deixou de existir com o derradeiro suspiro. Quase todos ali tem pessoas do lado de fora dos muros que sentem saudades, que as vezes choram sua ausência.
Não encontrei nenhuma alma viva para dizer bom dia.... e como é bom dizer bom dia estando num cemitério, não há lugar melhor, mais otimista para um bom dia rsssssssss
Findo meu passeio, visitado pessoas que deixaram saudades e marcaram minha vida sento-me na porta do cemitério com os 'meninos' e travamos um debate político, afinal as eleições estão chegando e somos mortos demais ao votar. Sempre votamos num fantasma, ou nos fingimos de mortos, opa, não quero continuar a frase, rsssss não aqui. Ou votamos num morto, que não tem história, nem memória e nem uma lápide sequer.
A prosa acabou com o telefone avisando que mais um morador iria ocupar as ruas calmas daquele lugar. Fui para casa, feliz por estar vivo; por poder visitar os que já não tem mais esse privilégio, ou não como sabemos, sei lá. Sei que muitos não entenderão nada, outros odiarão o texto. Nem me importo. Acho que vida e morte são inseparáveis. Chegadas e partidas, fazem parte de nossas vidas e amar e ter saudades também faz parte da felicidade. Quanto ao cemitério, inevitavelmente você haverá de entrar nele um dia sem poder sair para tomar um café na esquina e aí sim, ele se tornará um lugar desagradável, antes não, é apenas parte de nossas vidas e de nossas memórias.... O café depois da visita estava ótimo, bem quente, quase fervente.... Fui

O remédio falhou, voltei a escrever.....

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